terça-feira, 14 de outubro de 2008

O Vale do Rastelo

Nova Velar. Esse é o atual nome da rebatizada Cidade do Vale do Rastelo, um dos poucos lugares que conseguem fazer meu velho coração acelerar, com lembranças de tempos remotos (...), época onde o mundo não era governado pelo caos e pela desordem.

Pouco mudou no mais antigo dos Vales. E dentre as poucas mudanças, a maioria foi gerada pelos tratados assinados com a nova Rainha da antiga floresta. Após estabelecer um embaixada no Vale, a Coronel deu inicio à construção de navios, aproveitando todo o potencial comercial do maior porto de toda a região no entorno de Cormanthor. E em troca, os elfos ofereceram ao Conselho dos Sete Burgueses um muro para a cidade.

O Vale do Rastelo provou muito pouco da dor sofrida pelo resto do mundo, nunca a falta de tradição na arte beneficiou tanto um povo. E se não fosse pelo Templo da minha amada Senhora dos Mistérios, que jaz trancado no centro de Nova Velar, e pela grande baixa econômica das últimas duas décadas, eu diria que os harrans¹ nem mesmo viram a chamada praga mágica.


Quando eu ainda era um infante, o mais antigo entre os vales sobreviventes, era chamado de Vale Velar. Os harrans aprenderam a cuidar dos próprios problemas, respeitar seus vizinhos e se importar com sua terra - sejam os campos limpos das fazendas ou as florestas emprestadas dos elfos. Até recentemente, menos de um século, o povo dos Vales descreveria os cidadãos do Vale do Rastelo como uma população conservadora, muito parecida com o povo do Vale da Pena, mais ao Sul. A transformação da então Cidade do Vale do Rastelo em um grande porto mudou essa imagem, e nem a sucessão de crises de abastecimento conseguiu desacelerar o crescimento econômico do Vale, e é por esse e não outro motivo, que as famílias dos Sete Burgueses do conselho se mantêm no poder por mais de 100 anos.

Se ainda estivesse gozando de minha juventude, e pudesse escolher um lugar em Toril para viver uma nova vida como aventureiro, escolheria Velar. Acho que ainda posso sentir o cheiro do orvalho de uma noite abençoada por Nossa Senhora de Prata na Cachoeira da Lágrima da Donzela, o Vento Cortante na Montanha da Águia, as surpresas ocultas na Fortaleza do Halvan ou a felicidade em ver surgir no horizonte a Torre Azul da Encantatriz depois de dia caçando trolls no Campo Frio.

Porém, mesmo no quase intocado Vale, as coisas não continuam as mesmas, sinto falta da minha velha amiga, Theramor era uma pessoa excepcional, possuía uma simplicidade e uma capacidade de compreender os outros fora do comum, ao menos ainda posso visitar o velho círculo druídico e relembrar o tempo em que eu ainda tinha forças para mudar o mundo.
Não só a velha parteira se foi, mas toda a ordem de paladinos do Vau Dourado (...) assim como o próprio Vau. Me contaram na Abadia do Amanhecer, que as Serpentes malignas do sul ocupam a pequena vila e estão preocupadas apenas em seus sacrifícios profanos à seus Deuses esquecidos.

O mundo precisa de força, e acredito que o povo de Velar tem muito a ensinar com sua sabedoria. As vezes desejo ter tido apenas uma vida simples e honrada como a deles, ter passado sem tantas cicatrizes, sem o amargor de ter vivido tantos pesares, sem lamúrias, sem perdas (...). Mas nunca me coube escolher meu destino, e ele assim como o vento, está pra mudar, mesmo sem a benção da mão amiga.

1 - Nativos do Vale do Rastelo.

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